Normalmente procuramos ir direto ao assunto, para não perder o leitor logo nas primeiras linhas, evitando introduções desnecessárias. Hoje, pelo contrário, faremos uma apresentação extensa, para quem sabe a coluna seja lida apenas por aquelas pessoas que estão atentas às tendências do mercado imobiliário.
A questão que se coloca é a seguinte: até quando os imóveis continuarão apanhando feio de outras aplicações financeiras? No tempo da inflação elevada, havia a sensação (falsa ou ilusória, quem garante) de que os imóveis valorizavam, pois ao menos seu valor era reajustado todos os meses, mesmo imóveis velhos. Com o plano real, caímos na realidade, presente em todo o mundo, de que os imóveis também sofrem oscilações ou ciclos em seu valor de mercado, sendo agora visível qualquer desapreço que obtenham.
Quem, por exemplo, no início do plano real, há quatro anos, vendeu um imóvel e aplicou o dinheiro num dos fundos de investimentos disponíveis nos principais bancos, obteve no período renda superior a 100%, ou o equivalente a pouco mais de 20% ao ano, podendo hoje praticamente comprar dois imóveis iguais ao que vendeu. Sorte de quem teve essa clarividência.
Não chegue o leitor, portanto, à conclusão precipitada de que estamos sugerindo a venda de imóveis para aplicar o dinheiro em fundos de investimento, CDBs e outras inversões financeiras. Pelo contrário! Ao lermos ontem a revista “Trevisan” de julho de l998 fomos alertados para a informação de que “A economia nacional está em perigo”, porque a dívida interna aproxima-se de R$ 300 bilhões de reais, devendo fechar o ano em R$340 bilhões, quando era de apenas R$ 5 bilhões em 1993. Tal valor está lastreado em títulos públicos, nos quais se baseia grande parte dos fundos de investimento financeiros.
E o que isso tem a ver com o direito imobiliário ou com o mercado imobiliário? Não somos economistas para dar uma explicação técnica, mas nossa sensação é que está na hora de refletir sobre o rumo da economia brasileira. Diz a revista citada que “há cerca de um ano, nós da Trevisan vimos alertando para o crescimento espantoso da dívida pública federal, que tem assumido proporções inadministráveis”, e que se no ano passado a “economia nacional acendeu o sinal amarelo”, hoje “o sinal mudou definitivamente para o vermelho”.
De um lado, temos, pois, a economia nacional em ebulição e de outro um mercado imobiliário estagnado. Até quando vai continuar essa situação? Não seria agora ou nos próximos meses a hora de começar a diversificar os investimentos, dando ao bem de raiz, novamente, o seu papel de reserva de valor? Se a dívida mobiliária do governo tornar-se impagável, pagaremos todos nós, contribuintes ou não, seja com o retorno da inflação seja com uma moratória ou semi-moratória interna, que varrerá da noite para o dia todo o ganho exagerado dos fundos de aplicação.
Com a palavra os políticos e os economistas. Esperamos, sinceramente, estarmos errados quanto ao risco da dívida interna. Mas há muitos sinais no ar mostrando que o pêndulo poderá mudar de rumo, dando início a um novo ciclo de valorização dos bens imóveis.
Luiz Fernando de Queiroz é autor do TPD-Direito Imobiliário e do Guia do Condomínio IOB, fone 041-224-2709 e fax 224-1156.