Meses atrás escrevemos artigo sobre a deterioração das áreas centrais de nossas grandes cidades, salientando que a bela fachada de muitos edifícios esconde falta de cuidados nas laterais e na parte superior, que são vistas por milhares de pessoas que diariamente trabalham ou vivem nos prédios vizinhos. Citamos como exemplo, dentre outros, a reforma milionária da agência Marechal dos Correios de Curitiba, que, ao que tudo indicava, continuaria com sua fachada lateral com o mesmo tijolo cru de sua construção, e sem qualquer acabamento também no telhado.
Para nossa satisfação, e de centenas de outros que trabalham na vizinhança da agência, os responsáveis pela obra estão, finalmente, fazendo um trabalho que serve de exemplo para tantas outras construções: rebocando e pintando a parede externa e dando um acabamento decente a toda a parte da cobertura do prédio. Ganha a cidade, que terá um edifício bonito, e também os contribuintes, já que uma edificação bem acabada e vedada necessitará menores gastos de manutenção.
Para quem não leu nosso comentário anterior, voltamos a insistir: Você que vive em uma capital ou cidade grande, com muitos edifícios comerciais e residenciais, não acha que se tem dado muita importância à fachada principal do prédio, deixando as outras fachadas (laterais e superior) relegadas a um papel muito inferior? Olhe à sua volta. Observe o miolo das quadras centrais. O que vê, salvo exceções, senão o produto de muito desleixo e falta de manutenção. Note como muitas edificações estão com pintura nova, mas só na parte da frente, sem qualquer sinal de reparo, há muitos anos, na parte dos fundos, que, não raro, vira depósito de lixo ou ninho de pombas e refúgio de outros animais.
No tempo do Brasil Colônia, e na verdade até décadas atrás, os prédios de uma rua costumavam ter a mesma altura e se aninhavam um ao lado do outro junto à linha da calçada. Não havia separação entre um e o outro, nem prédios de maior altura, o que impedia que se visse a sujeira ou o descaso existente no seu fundão. Não é o que acontece hoje. A maioria não mais se constrói no alinhamento da rua, as alturas variam, todas as fachadas se mostram visíveis, inclusive a parte de cima. O que antes a entrada escondia, hoje está à mostra de todos que se utilizam de um elevador.
Se os tempos mudaram, é preciso mudar a mentalidade. Começando, como dissemos, com a postura dos construtores e incorporadores, dos arquitetos e dos engenheiros, e também dos proprietários e adquirentes de novas unidades imobiliárias. Não mais condiz com a qualidade esperada utilizar a melhor pastilha na frente do edifício e deixá-lo com simples reboco e tinta (facilmente deterioráveis) nas demais fachadas.
Diga-se, a bem da verdade, que a realidade já está sendo mudada. Shopping centers, grandes magazins (C&A, Pernambucanas, Renner e outros), supermercados (todos), postos de gasolina, edifícios comerciais e residenciais modernos têm dedicado atenção especial ao aspecto arquitetônico de seus projetos, valorizando toda a edificação, por dentro e por fora, sem deixar áreas menos nobres que possam diminuir sua imagem ou o conceito de eficiência e qualidade que buscam transmitir a seus clientes e ao público em geral. Outros setores, como hotéis, restaurantes, lojas de pequeno e médio porte, repartições públicas em geral, condomínios comerciais e residenciais antigos, e tantos mais, ainda têm um longo caminho a percorrer nesse sentido.
Com nossos parabéns aos responsáveis pela reforma da agência dos Correios, mais uma vez esperamos que nossas palavras tenham acolhida e sirvam de estímulo à melhoria do padrão construtivo de nossas edificações. Como sempre, a cidade agradece.
Luiz Fernando de Queiroz é autor do TPD-Direito Imobiliário e do Guia do Condomínio IOB, fone 041-224-2709 e fax 041-224-1156.