Quem é, como pensa, como age, como reage, o que espera, em quem confia, de quem desconfia, a quem apela, por quem se preocupa, de que se envergonha, o que aflige e o que tranqüiliza o proprietário de imóveis?
Verdade seja dita, pouco sabemos sobre a pessoa do proprietário de imóveis. O que sabemos não é fruto de pesquisas profundas ou estudos cientificamente conduzidos; resulta da observação e da experiência. O proprietário de imóveis é uma pessoa humana como qualquer outra. Mas na condição de possuidor de bens de raiz aguça algumas de suas qualidades e defeitos, fornecendo indícios e elementos que permitem distingui-lo e enquadrá-lo como uma categoria social.
Parodiando Euclides da Cunha, podemos dizer que "o proprietário de imóveis é antes de tudo um conservador". A novidade, a inovação e os modernismos não lhe atiçam a vontade. Agrada-lhe a ordem, a harmonia, a tranqüilidade, a neutralidade. É amigo da paz, paciente, prudente. Esgrima e combate somente quando não lhe resta outra alternativa. Sabe, contudo, ser pungente e beligerante quando vê seu dinheiro correr perigo. Segura-o com firmeza sem ser avarento; está perto de ser ganancioso mas não insaciável; ambiciona o lucro e reverencia a poupança. Afasta-se do esbanjamento, do desperdício, da dilapidação, bem como do suntuoso, do extravagante e da prodigalidade. Além de previdente, é providente. Muito embora tentado pela especulação, procura fugir do imprevisto e das incertezas. Não é certamente um aventureiro. Nem um jogador ou um biscateiro da sorte. Não encara o risco como uma variável de investimento, mas como desgraça do infortúnio. Ainda que veja os fatos com largueza, jamais deixa de esmiuçar os detalhes, de investigar os pormenores, de descer às particularidades. Por tudo isso, o proprietário de imóveis é difícil de ser conquistado. Confia desconfiando. E perde com facilidade a confiança conquistada com muito trabalho, tempo e devoção.
Esta descrição generalizada e incompleta do proprietário de imóveis, reforçada pelas próprias observações, deve permanecer viva na mente de quem angaria, vende ou administra imóveis. Como toda regra, há exceções. O conhecimento da psicologia e da personalidade do proprietário constitui, não há dúvida, valioso instrumento de trabalho do corretor.
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No universo de pessoas que se incluem na categoria de proprietários de imóveis, por viverem dos frutos produzidos por essa parte de seu patrimônio, que percentual se enquadraria, grosso modo, na descrição acima?
Você, leitor que é proprietário, identificou-se com o perfil traçado? Ou é outra, totalmente outra, a sua maneira de pensar e agir?
Conhecer melhor a figura do proprietário de imóveis é mais um desafia que se apresenta ao mercado de imóveis. A crise da oferta excessiva de unidades para locação e venda e de baixa procura está fazendo com que apenas os melhor preparados continuem tendo sucesso na profissão. Não basta conhecer só o produto, é preciso sentir a alma de quem está sofrendo no bolso os efeitos da estagnação.
A propósito, o trecho acima foi originalmente publicado no TPD-Administração de Imóveis, de nossa autoria.
Luiz Fernando de Queiroz é autor do TPD-Direito Imobiliário e do Guia do Condomínio IOB, fone (*41)224-2709 e fax (*41)224-1156.
