No momento em que escrevo esta coluna (17.05.04), cem alunos de uma escola pública de Curitiba estão despichando a rua que é símbolo do descaso e do abandono da capital paranaense – a Travessa da Lapa – bem no centro da cidade.
Utilizando rolos e brochas, cal e água, com muito riso e alegria, os jovens da 5a. a 8a. séries foram conduzidos de ônibus até o local (a escola fica num bairro meio distante), após terem assistido a palestra de funcionários da Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil (ACGB), sobre a campanha de Combate à Pichação desenvolvida por aquela entidade desde maio de 2000.
Ao contrário do famoso Bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, a Travessa da Lapa em Curitiba nunca foi palco da boemia curitibana, não inspirou poetas, nem foi cantada em prosa e verso. Décadas atrás, quando ainda era uma viela de duas quadras, hospedava casas e comércio de baixo nível. A má fama diminuiu mas não desapareceu quando a rua foi alargada e alongada para receber uma linha dos ônibus biarticulados (com capacidade para até 250 passageiros), sem circulação de automóveis.. Continuou em estado lastimável, totalmente pichada, sem comércio, com a maioria dos imóveis desocupados, pois a falta de trânsito e de pedestres afugentava eventuais lojistas. O desalento só cresceu a medida que o tempo passava, com prejuízo grande a todos os proprietários de imóveis na área.
Os dirigentes da ACGB acreditam que a Travessa da Lapa, por sua localização privilegiada, possa tornar-se uma rua comum do centro de Curitiba, com comércio normal e circulação regular de pessoas. Seu despiche pode ser o passo inicial para quebrar o círculo vicioso em que se encontra.
O mutirão com os alunos da escola pública exigiu planejamento e organização, mas contou com o apoio das empresas que atuam na área, condomínios, bem como da Polícia Militar, Guarda Municipal, Diretoria de Trânsito (Diretran) e outras entidades, além da imprensa, rádio e televisão, que deram a cobertura. Também trabalharam cinco “zeladores de vizinhança”, mantidos pela ACGB, que fizeram o serviço de acabamento e pintura nas partes mais altas das fachadas.
Para quem não está familiarizado com o neologismo despiche, explique-se que despichar não é o mesmo que repintar ou pintar um imóvel; consiste simplesmente em apagar as pichações, cobrindo-as com tinta ou cal. A cal, segundo explicam os organizadores do mutirão, provou ser o melhor produto para despichar paredes comuns, pois não é tóxica, custa muito barato (no caso, foi doada pelas indústrias de cal do município de Almirante Tamandaré, na região metropolitana) e é muito eficiente para esconder o estrago feito pelo pichador.
Antes de enfrentar o desafio de despichar a Travessa da Lapa, a ACGB adquiriu experiência em mais de 30 mutirões em escolas públicas de Curitiba, reunindo os alunos para limpar os muros da escola e da vizinhança, após ouvirem palestra sobre o assunto.
Caberá ao “zelador de vizinhança” que atua nas quadras adjacentes à Travessa da Lapa manter as fachadas da rua limpas, pois a experiência já mostrou que se o despichamento é feito de imediato, o pichador desiste de agir, já que ninguém vê o produto de sua “arte”.
PS. Se o leitor quiser saber mais sobre a Campanha de Combate à Pichação, visite www.acgb.com.br ou ligue para (41) 223-7708.
Luiz Fernando de Queiroz é autor do TPD-Direito Imobiliário e do Guia do Condomínio IOB, fone (41) 224-2709, fax (41) 224-1156, e-mail lfqueiroz@grupojuridico.com.br.