Quem entende do mercado imobiliário sabe que a localização é o fator que mais influencia o preço de um imóvel. “Location, location, location”, dizem os americanos, quando se referem aos três requisitos básicos para o sucesso de um empreendimento comercial. Excluindo-se o exagero, é isto mesmo.
Mas o que é, afinal, a localização e o que é que valoriza tanto um imóvel pelo fato de estar situado num lugar privilegiado? O que faz a diferença, a nosso ver, é a vizinhança, ou seja, as condições urbanas e humanas da área em torno do imóvel: qualidade das ruas e calçadas, presença de residências e lojas, proximidade de prestadoras de serviço, índice de segurança e tantos outros elementos que caracterizam o espaço urbano.
O ponto a que queremos chegar é que todos, na hora de comprar um imóvel, procuram um que seja vantajoso, para fins de moradia ou para exploração comercial, dotado de todos benefícios que compõem uma boa localização.
O que poucos ainda possuem, infelizmente, é a consciência de que o conceito de localização privilegiada é fluido, variável e que só se sustenta pelo esforço e investimento das pessoas e empresas que residem ou operam na área. Para simplificar a conversa, deixemos as pessoas comuns de fora e fixemo-nos somente nos estabelecimentos comerciais ou industriais.
A grande maioria deles é muito caprichosa com seus próprios. Cuidam bem da construção, do jardim interno, da fachada e até da calçada em frente. Porém, não dão um passo além. Se ao lado há um terreno baldio ou uma valeta a céu aberto, se a rua é esburacada ou se não há árvores plantadas, se o ponto de ônibus e o telefone público estão pichados, pouco se importam. Afinal, isto é problema da prefeitura, pensam. Não imaginam como fatores negativos dessa natureza influenciam na depreciação do imóvel e trazem prejuízo para seus negócios.
Uma pequena minoria de empresas, felizmente, já perceberam que estão inseridas, antes de tudo, em uma vizinhança, que faz parte de um bairro e de uma cidade. Por isso, vão além da esfera de sua propriedade. Gestionam junto aos órgãos municipais para que mantenham as ruas adjacentes em ordem, e, quando necessário, assumem por conta própria a limpeza e conservação de seu entorno. Sabem seus dirigentes que este é um investimento de retorno invisível (não aparece no balanço da empresa) mas certo e de efeitos duradouros.
Lojas térreas, em especial, devem dar toda atenção para as calçadas em frente. Se estiverem no padrão exigido pelas posturas municipais (ou pelo bom senso) aumentarão o fluxo de pedestres, o que resulta em maiores vendas. Os shopping-centers aprenderam isso há muito tempo.
Em zonas consideradas perigosas, o emprego de tinta (ou cal) e luz é suficiente para reduzir a criminalidade. Uma paisagem urbana iluminada e colorida (clara) tem o condão de afugentar marginais. Isto já foi confirmado na prática pela Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil, em diversas ruas de Curitiba, onde desenvolve sua campanha de combate à pichação, com a contratação de zeladores de vizinhança.
Em suma, caro leitor, vá além dos limites de sua casa ou empresa, adote sua vizinhança. Você será, com certeza, o maior beneficiário.
Luiz Fernando de Queiroz é autor do TPD-Direito Imobiliário e do Guia do Condomínio IOB, fone (41) 224-2709, fax (41) 224-1156, e-mail lfqueiroz@grupojuridico.com.br.